Junho/2013 – Valor
A atividade econômica do setor de construção civil deu sinais de reaquecimento em abril e maio e deve exercer influência positiva sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, na avaliação de economistas e entidades do setor ouvidas pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor.
Cálculos da LCA Consultores apontam que a construção civil deve registrar expansão de 3,9% no segundo trimestre em relação ao primeiro. Se tal projeção se confirmar, segundo a LCA, o setor contribuirá com 0,2 ponto percentual para o crescimento da economia brasileira projetado pela LCA, que é de 1,2% ante o ante o trimestre anterior. O bom desempenho ocorre após o setor recuar 0,1% no primeiro trimestre de 2013 sobre o período imediatamente anterior. Na ocasião, a construção pesou negativamente em 0,01 para o fraco aumento de 0,6% do PIB do Brasil.
A reação esperada, no entanto, não deve garantir, neste ano, um resultado comparável ao de 2010, período considerado como “dos sonhos” pelo segmento. Naquele ano, após a crise financeira de 2009, o PIB da construção civil cresceu 11,6%, embalado por ações como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa, Minha Vida. Entidades do setor, como Sinduscon-SP e Secovi-SP, têm dúvidas de que a aceleração se sustentará ao longo do ano.
Em 2013, a construção civil, que abrange os setores imobiliário e obras de infraestrutura, voltou a receber incentivo do governo federal: em 1º de abril entrou em vigor a desoneração da folha de pagamento de empresas do segmento, o que já se refletiu na queda dos preços: o Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) mostrou deflação de 5,12% em maio.
A indicação de avanço da atividade da construção veio dos dados de abril divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostraram alta de 18,4% na produção de bens de capital para a construção, como gruas, guindastes e outras máquinas, sobre o mesmo mês do ano passado.
Além disso, a produção de materiais de construção, medida no indicador de produção de insumos básicos para a construção, cresceu 9,7% registrando a expansão mais intensa desde fevereiro de 2011, na mesma comparação. De janeiro a abril, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), as vendas cresceram 4,7% em relação ao mesmo período de 2012, “em função de um aumento acentuado nas vendas de materiais de construção em abril”, que subiram 14,2% sobre abril do ano passado, e 0,3% sobre março.
A expectativa para o restante do segundo trimestre é de mais aquecimento. A Abramat antevê que “maio será melhor que abril, e junho será parecido com maio”, diz Walter Cover, presidente da entidade, que reúne 50 fabricantes de materiais de construção.
Os dados abrem espaço para uma melhora na perspectiva de atividade para o setor. Para Ana Maria Castelo, consultora da Fundação Getulio Vargas (FGV), os dados de abril mostram o setor “tirando o pé do freio” nos investimentos. “Depois de um trimestre ruim, a produção de materiais de construção sinaliza que o pior já ficou para trás.”
Desde 2011, o ritmo de contratações com carteira no setor de construção cai mensalmente. A criação de vagas, que crescia a um ritmo de 9,3% em abril do ano passado, na comparação com o ano anterior, perdeu ritmo e cresceu apenas 1,2% em abril deste ano contra abril de 2012, segundo dados do Ministério do Trabalho elaborados pela FGV. “A taxa de crescimento do emprego na construção diminuiu e de janeiro a abril houve queda de 30% no saldo de contratações. Mas em nenhum momento o setor deixou de contratar”, diz Ana Maria.
A exceção foi o segmento imobiliário, um dos principais do setor de construção que, influenciado pela queda nas vendas, passou a demitir mais do que contratar a partir do segundo semestre de 2012. Desde janeiro, contudo, o segmento voltou a contratar, mas não recuperou o patamar de 2012. Para Ana Maria, o indicativo de que o mercado imobiliário voltará a ter saldo positivo de emprego na economia é a melhora do ânimo dos empresários do segmento, que vinha piorando ininterruptamente desde março do ano passado e esboçou reação em abril e maio.
A confiança dos empresários do segmento de construção de edifícios e obras civis, medida pela FGV, teve a segunda melhora consecutiva na média trimestral em maio ao atingir 121,8 pontos, acima dos 120,3 de abril. O resultado ainda é 5,7% menor do que o registrado no mesmo mês do ano passado, mas já mostra uma trajetória de recuperação gradual.
A mudança de humor dos empresários do setor imobiliário se deu quando, após um 2012 de encolhimento nas vendas e lançamentos, os negócios voltaram a crescer em alguns grandes centros, como Porto Alegre e São Paulo. “Esse movimento não é disseminado, no Nordeste ainda não se recuperou, por exemplo”, diz a consultora da FGV.
Na região metropolitana de São Paulo, que junto com o Rio de Janeiro abarca quase metade do mercado imobiliário do país, o número de lançamentos imobiliários cresceu 43,9% no primeiro trimestre sobre o mesmo período do ano passado, enquanto o número de vendas aumentou 27,1%, segundo os números do Secovi-SP. A retomada continuou no mês seguinte: em abril foi registrado o maior número de lançamentos imobiliários para o mês desde 2004, informou o economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci.
Para o Sindicato da Construção de São Paulo (Sinduscon-SP), o aumento dos investimentos para a construção civil observado em abril não representa necessariamente uma tendência de aceleração que perdurará ao longo de 2013. “Construção civil é como um transatlântico, que não dobra a esquina. Quem dobra a esquina é bem de consumo, não o setor de construção. Na hora de acelerar a produção, você não acelera quando quer, e na hora de parar você também não para”, afirmou o vice-presidente da entidade, Eduardo Zaidan, que prevê que o setor cresça 3,5% este ano, ritmo similar ao de 2012.