Por que 2013 vai ser diferente
Posted by Fred Rangel Comment |
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mar
Março/2013 – Estadão
A divulgação do crescimento de apenas 0,9% do PIB brasileiro em 2012, embora esperada, tem suscitado dúvidas sobre um melhor desempenho este ano. Fato é que uma série de fatores adversos que afetaram negativamente o resultado de 2012 não se deverá repetir em 2013.
Houve uma confluência de desempenhos negativos na indústria (-0,8%) e na agricultura (-2,3%) e uma queda de 4% nos investimentos, que afetaram o desempenho total. E este só não foi pior por causa do crescimento de 1,7%, nos serviços; de 3,2%, no consumo do governo; e de 3,1%, no consumo das famílias.
É natural que haja certa insegurança quanto ao desempenho futuro da economia, a partir do quadro passado. Mas há vários aspectos que permitem prognosticar um desempenho melhor em 2013. Dificilmente a combinação adversa de fatores que afetaram negativamente o crescimento do País se repetirá este ano. Além disso, houve mudanças expressivas nas condições de competitividade que já começam a fazer efeito.
Entre as principais modificações do cenário macroeconômico, temos a expressiva queda na taxa de juros, o que leva um tempo de maturação, mas já vem provocando redução do custo de oportunidade dos investimentos produtivos e uma saudável migração de investimentos para projetos de infraestrutura e empresariais. O segundo fator importante foi a correção na taxa de câmbio, que se deslocou de uma faixa de R$ 1,60/1,70 para uma próxima de R$ 2,00, o que representa um ganho de competitividade para os produtores brasileiros.
Nesses dois pontos, é importante destacar a mudança de rota. Tem sido muito positiva a atuação das áreas econômicas do governo federal (Ministérios da Fazenda, Indústria e Comércio e Banco Central) para quebrar o paradigma que nos impôs uma taxa de juro real alta demais nas últimas duas décadas e um longo período de valorização cambial. Mais do que os níveis em si – recorde de baixa nos juros reais e a desvalorização do câmbio -, há que se ressaltar a mudança de postura, a partir do reconhecimento de que eles representam um problema e de que estão predispostos a corrigi-lo.
Outro ponto significativo é o esforço de redução do “custo Brasil”, especialmente pelas ações na queda dos custos de energia e na desoneração tributária – onde ainda há enorme espaço para fazê-la nos investimentos -, além da desoneração em curso dos encargos trabalhistas sobre salários em vários setores.
Todos os fatores macro e microeconômicos em tela, junto com um maior ativismo nas políticas industrial, comercial e de ciência e tecnologia caminham no sentido de ampliar a competitividade da produção brasileira, seja na concorrência com os importados ou ainda para ganhar espaço nas exportações.
É salutar que haja um relativo consenso quanto à necessidade de fomentar a elevação dos investimentos, estagnados em cerca de 18% a 19% do PIB nos últimos anos, e criar as condições para que venham a atingir 24% a 25% no médio prazo. Isso, porém, não deve ser visto de forma desvinculada de um cenário positivo para a demanda. Na verdade, é a percepção de que a demanda vai continuar forte que vai estimular as decisões de investimentos pelas empresas.
Da mesma forma, vale destacar que a elevação dos investimentos não é algo isolado do crescimento da economia, como muitas vezes o tema é, de forma equivocada, tratado na mídia. São polos de um mesmo vetor. Sob a ótica da demanda, ambos (consumo e investimentos) são impulsionadores de valor agregado. Assim, a simples elevação dos investimentos já representa por si só um incremento do PIB, além do efeito multiplicador sobre a demanda, que adicionalmente gera mais valor agregado.
Nesse sentido, incrementar o investimento é um desafio, mas, mais do que isso, uma imensa oportunidade para o Brasil. Ao contrário de outros países, que estão em recessão, como os da Europa, ou sobreinvestidos, como é o caso da China, temos uma enorme demanda potencial, tanto de consumo quanto de investimentos.
* Antonio Corrêa de Lacerda é professor-doutor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política da PUC-SP, doutor pelo IE/Unicamp e foi presidente do Conselho Federal de Economia (Confecon).