Crowdfunding chega ao mercado imobiliário
Posted by Fred Rangel Comment |
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Julho/2014 – IG São Paulo
Britânico busca parceria no Brasil para plataforma de financiamento coletivo de imóveis; setor cresce nos EUA
Com a Inglaterra eliminada da Copa de 2014, James Cadbury – bisneto do fundador da marca britânica de chocolate que leva o seu sobrenome – tenta dar um novo sentido à sua viagem ao Brasil: turbinar sua empresa de crowdfunding de imóveis. “Tendo visitado o Brasil para a Copa do Mundo, nós adoraríamos um dia poder oferecer imóveis nessa região e estamos em busca de um parceiro para tanto”, afirma o executivo, em entrevista ao iG por e-mail.
A Property Moose, lançada há pouco mais de um mês por Cadbury e outros executivos, é uma das várias plataformas de investimento em imóveis apresentadas como crowdfunding que têm surgido na Inglaterra e nos Estados Unidos, numa nova fronteira do mercado de financiamento alternativo.
Em 2013, os crowdfundings que envolvem títulos – nos quais se encaixam os de imóveis – movimentaram 28 milhões de libras – R$ 105 milhões – no Reino Unido, uma cifra 16 vezes maior que a de 2011, segundo estudo da organização britânica de caridade Nesta, em conjunto com as universidades de Cambridge e da Califórnia em Berkeley. O financiamento alternativo, excluídas as doações, como um todo girou 955 milhões de libras – R$ 3,61 bilhões.
A ideia das plataformas de investimento imobiliário é operar nesse mercado bilionário permitindo que pequenos investidores possam se juntar para comprar um imóvel por meio de cotas e lucrar com o aluguel e valorização de sua parte.
No Property Moose, o investimento mínimo é de 500 libras (R$ 1,9 mil), valor que seria insuficiente para comprar 1m² de um imóvel na Inglaterra. Segundo o último levantamento do Lloyds Banking Group com a Halifax, o mais barato do País – em Stanley, no nordeste da Inglaterra – custa 818 libras (R$ 3,1 mil).
“Nós juntamos investimentos de uma coletividade para comprar as propriedades. Sem a coletividade, a oportunidade de investimento não existiria”, justifica Cadbury.
Cerca de 500 pessoas se registraram no site no primeiro mês – alguns brasileiros – e os que investiram colocaram, em média 3 mil libras.
“Alguns são jovens profissionais que querem começar a construir patrimônio imobilário. Outros são investidores experimentados que querem diversificar e ir além de papéis, mas não têm tempo para administrar um portfólio de compra para venda”, afirma o executivo.
Por enquanto, o Property Moose conseguiu adquirir apenas uma propriedade e está em captação de recursos para a segunda.
Na Inglaterra, as plataformas de financiamento coletivo são reguladas pela Autoridade de Conduta Financeira (FCA, na sigla em inglês), que já contabiliza 21 sistemas de crowdfunding que envolvem títulos.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira diz estar acompanhando o que acontece em outros países, mas que “no momento, não há previsão para edição de uma instrução específica sobre crowdfunding.”
Para professora, termo é usado para dar charme
Nos EUA, a Fundrise se apresenta como o primeiro crowfunding de imóveis do País. Lançada em 2010 e dedicada ao mercado de imóveis comerciais, a plataforma tem investimento mínimo de US$ 100 (R$ 220) e conta, atualmente com cerca de 1 mil usuários, que já aportaram US$ 16 milhões (R$ 35,4 milhões).
Segundo Daniel Miller, um dos proprietários, a Fundrise já fechou mais de 30 projetos desde então – e ganhou cerca de 100 concorrentes.
O executivo diz ter buscado o investimento coletivo ao perceber que, no mercado imobiliário, a maioria dos investidores não têm relação com o local onde o imóvel em que aplicaram será investido.
“A vasta maioria dos investimentos [no mercado imobiliário] é limitada a um grupo muito pequeno e selecionado de investidores institucionais. Como indivíduo, é mais fácil investir numa companhia em outro país do que num imóvel do outro lado da rua”, diz Miller, ao iG. “Então, começamos o Fundrise para dar a oportunidade a toda pessoa.”
A legislação americana, entretanto, obriga a plataforma a impôr condições: os investidores têm de ou morar num determinado Estado ou serem classificados como acreditados, o que exige ter renda maior e ser mais velho.
Tais limitações, que têm freado a diversificação do mercado de financiamento coletivo nos EUA, também impedem que oportunidades como o Fundrise possam ser chamadas propriamente de crowdfunding, avalia Joan MacLeod Heminway, professora da Faculdade Direito da Universidade do Tennessee.
“Eu defino crowdfunding como campanhas de financiamento para um público amorfo e indiferenciado. Mas outras pessoas nos Estados Unidos – assim como em outros lugares – passaram a usar o termo para descrever diferentes tipos de financiamento”, afirma Heminway
Nesses casos, diz a professora, o crowdfunding está mais para tempero da moda. “Eu acho que estão apenas tentando apimentar suas ideias para torná-las mais populares.”