Bancos ainda sentem reflexos de expansão no setor imobiliário
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Julho/2012 – O Estado de São Paulo
O momento “morno” do mercado imobiliário não impressiona os principais bancos do País, que continuam apostando em perspectivas positivas para o setor. Entre os argumentos que sustentam a análise está o baixo nível do crédito imobiliário em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Aqui, esse indicador está em 5,4% (R$ 229 bilhões). No Chile, país preferido para a comparação por se tratar de um emergente como o Brasil, o nível chega perto de 20% do PIB.
“O que está acontecendo é um freio de arrumação. Há um esforço das construtoras para entregar o que venderam nos últimos anos”, sintetiza o diretor de Negócios Imobiliários do Santander, José Roberto Machado.
“Se em 2020 a relação crédito imobiliário/PIB chegar a algo entre16% e 18% do PIB, como imaginamos, estamos falando de um montante adicional de cerca de R$ 500 bilhões nos próximos anos”, completa o diretor de crédito imobiliário do Banco do Brasil, Gueitiro Matsuo Genso.
As estimativas sustentam-se fundamentalmente em duas razões. A primeira é o déficit habitacional brasileiro, que, segundo diferentes estatísticas, varia entre 5 milhões e 7 milhões de moradias. A segunda está relacionada à situação macroeconômica favorável à compra de imóveis. Para os próximos anos, os bancos projetam inflação sob controle, desemprego baixo e renda em expansão.
Há ainda um terceiro fator em potencial: queda dos juros cobrados dos clientes. Sobre esse tema, porém, não há consenso entre os executivos, porque alguns deles avaliam que é difícil derrubar ainda mais as taxas, que hoje variam entre 9% e 12% ao ano mais Taxa Referencial (TR).
Sem surpresa. A recente desaceleração no ritmo de vendas, principalmente de imóveis novos, já era esperada pelos bancos. Na avaliação dos executivos, o mercado reflete hoje o que aconteceu entre 2007 e 2008, quando a euforia que dominava a economia global levou várias construtoras a abrir o capital na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Com o dinheiro, compraram terrenos e investiram pesadamente em lançamentos.
“Essa é a primeira colheita grande que se seguiu ao ciclo de aberturas de capital. Os problemas aparecem, as empresas aprendem e se preparam para um novo ciclo”, disse Machado.
Os bancos, curiosamente, são o elo da cadeia do segmento imobiliário que ainda não sentiu a desaceleração na carne. “Nós estamos no fim da cadeia. Sentimos hoje algo que começou dois ou três anos atrás”, explicou o diretor de crédito imobiliário do Bradesco, Cláudio Borges. Não é sem razão, portanto, que toda divulgação de balanço de banco apresenta como destaque positivo o segmento imobiliário. No Bradesco, por exemplo, os quase R$ 20 bilhões da carteira, hoje, são mais do que o dobro do estoque há cinco anos.
Embora estejam otimistas com o futuro, todos os executivos consultados para esta reportagem frisam que os critérios para a concessão de empréstimos imobiliário são – e continuarão – apertados. O comprometimento da renda líquida da família com a prestação, por exemplo, não pode superar os 35%.